Tem hora que o tempo congela
E fica infértil a terra do meu coração
O sal da minha língua insípido
Minha mente voando como um gavião
A chama exala a fumaça
Da minha alma, meu lampião
É como um velho em sua cadeira de balanço
É como um trago no cigarro do desgosto
Um caruru de palma sem palmas
Guarda sem farda sem arma e sem posto
O gole seco na dose de cachaça
Escapelada a face do meu rosto
Cangaceiro sem destino certo
Incerto sem sua palavra dura
Só o seu chapel de couro
Que é a lembrança mais pura
De que acima da cabeça existe alguém
De eterna e grande doçura
A catarata lhe rodeia os olhos
E lhe cobre o semblante sem cor
A tromba d’água inunda a sala
De um corpo que geme de dor
A cabeça queima como brasa
No vulcão de imensurável calor
Há arrepio de angustia
Vento frio de anuncio traiçoeiro
Sensação de mórbido espaço
Densas nuvens de grande um nevoeiro.
Ameaça-me com armas mazeladas
De inseguranças inconstantes
De felicidades momentâneas
De sentimentos belos e sublimes instantes
Enquanto voa a verdade ao derredor
E o tic e tac que gira incessante
Me solta os olhos da razão
Da palavra que desfaz enormes montes
Quem sou eu em meio a tantos zeus
Que não me encontro em meio a ninguém
Desesperado tento decifrar a incógnita
Que faz de mim o meu próprio refém
Há sombra da duvida profunda
De quem se esconde além do além.
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